Os golpes não nascem nas cabeças maquiavélicas dos candidatos a ditadores, mas nas pernas trôpegas de governantes democratas que não cumprem os compromissos assumidos nas eleições. Quando a democracia não atende às aspirações da nação e do povo, seus governantes cansam, e os golpistas se apresentam como alternativa.
Há décadas a democracia brasileira caminha a passos trôpegos, deixando aberta a necessidade de diversos golpes: contra corrupção, irresponsabilidade fiscal, aparelhamento do Estado pelo partido no poder, concentração de renda, causas da violência urbana, ineficiência e baixa produtividade da economia, sobretudo contra a deseducação geral de nossa população.
Só não necessitamos de golpes políticos contra a ordem democrática. Se estes necessários golpes sociais continuarem ausentes da prática política, será uma questão de tempo para a realidade fazer o golpe político que não desejamos. Se isto acontecer, duas causas serão identificadas: a resistência a pensar e o dogmatismo de colocar siglas, interesses pessoais e preconceitos ideológicos à frente dos interesses do Brasil.
Domingo, 3 de julho, esperava um voo, em Porto Seguro (BA), para voltar a Brasília, quando uma senhora aproximou-se e perguntou: “O senhor é o senador Cristovam?”. Respondi que sim, estendendo-lhe a mão que ela recusou, dizendo “Não aperto a mão de golpista”.
Perguntei como ela sabia qual será o meu voto se, como um dos juízes do impeachment, só decidirei ao fim do processo, depois de analisar todos os argumentos favoráveis e contrários, buscando qual a decisão menos comprometedora para o futuro do Brasil: cassar outra vez o mandato de presidente por crime de responsabilidade ou manter um mandato sem credibilidade nem rumo.
Aquela senhora me respondeu com toda a convicção: “Dúvida é golpe. Se o senhor ainda não decidiu, é golpista”. Ou seja, refletir, pensar, julgar são atos golpistas. Por formas diferentes, esse comportamento vem sendo comum há anos na sectária política brasileira. Não há espaço para dúvida e reflexão; nem simpatia para ouvir ideias divergentes.
O golpe chegou derrubando o pensamento. O julgamento do impeachment ao longo do prazo previsto pela Constituição seria apenas pró-forma: a decisão já deve estar tomada. De um lado, conforme a simpatia pela presidente, sem considerar seu governo, nem os crimes que por ventura tenha cometido; de outro, pelos que não querem a presidente, o impeachment deve ser definido logo, independentemente de ela ter ou não cometido crimes de responsabilidade.
A busca do melhor futuro para o Brasil está fora do “debate” entre as torcidas. Neste jogo, todos perdem a oportunidade de uma grande e coletiva reflexão sobre o que está acontecendo com o nosso país e o futuro que nos aguarda.
O processo de impeachment chegou golpeando o pensamento. Prova é que, ao ver o título deste artigo, a maioria provavelmente já tomou posição contra ou a favor, antes mesmo de ler o conteúdo.
(*) Professor emérito da UnB e senador pelo PPS-DF
Pena que minha resposta seja tardia, pois nunca vira este texto do senador que outrora recebera meu sufrágio. Texto bem construido como mais um que tentou convencer a escolha ao golpe.
Escolha ao golpe, porque como suas próprias palavras vacilantemente tentam explicar que a presidenta não tinha apoio político, por isso foi retirada.
Mas aos senadores é dada a missão de julgar os crimes de responsabilidade e ao STF crimes comuns do presidente da república.
Então, como a maioria julgou por achar que a Dilma não tinha condições de governar, impitimaram por outro crime não pela responsabilidade. Até porque analistas do Senado declararam que não houve crime na ocasião. O senador Acir Gurgacz aprovou as contas com ressalvas, mas quase terminou com sua carreira política em Rondônia.
Outros pensaram que a carreira é mais importante que a democracia, então não poderiam ir contra a “corrente”.
Mas quem soltou essa corrente de águas ou quem a movimentou? Não importa, ou por ódio ou por medo a página escrita em nosso país ao arremedo da lei só tem um nome. Golpe.
Pena que minha resposta seja tardia, pois nunca vira este texto do senador que outrora recebera meu sufrágio. Texto bem construido como mais um que tentou convencer a escolha ao golpe.
Escolha ao golpe, porque como suas próprias palavras vacilantemente tentam explicar que a presidenta não tinha apoio político, por isso foi retirada.
Mas aos senadores é dada a missão de julgar os crimes de responsabilidade e ao STF crimes comuns do presidente da república.
Então, como a maioria julgou por achar que a Dilma não tinha condições de governar, impitimaram por outro crime não pela responsabilidade. Até porque analistas do Senado declararam que não houve crime na ocasião. O senador Acir Gurgacz aprovou as contas com ressalvas, mas quase terminou com sua carreira política em Rondônia.
Outros pensaram que a carreira é mais importante que a democracia, então não poderiam ir contra a “corrente”.
Mas quem soltou essa corrente de águas ou quem a movimentou? Não importa, ou por ódio ou por medo a página escrita em nosso país ao arremedo da lei só tem um nome. Golpe.